segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Um passeio pelo Rio Jaboatão

Por James Davidson
Fotos: Jorge Araújo


Dando continuidade ao nosso estudo sobre os rios da cidade, iremos tratar agora sobre aquele que deu nome à cidade: O Rio Jaboatão. O Rio Jaboatão nasce no Engenho Pacas, na divisa com o Engenho Arandu de Cima, em Vitória de Santo Antão. Depois de percorrer vários quilômetros nos municípios de Vitória, Moreno e Jaboatão dos Guararapes, ele despeja no Oceano Atlântico, depois de juntar-se ao Pirapama, na Praia de Barra das Jangadas. Em seu percurso, sofre vários tipos de agressões, desde o despejo de resíduos industriais até o despejo de produtos oriundos da ferti-irrigação da cana-de-açúcar. Para facilitar o estudo, delimitamos um trecho compreendido entre a Foz do Duas Unas e a Usina Bulhões.



Partindo da Foz do Duas Unas, percebemos, como já comentado na postagem anterior, o contraste entre as águas dos dois rios, isso devido à poluição industrial sofrida pelo Duas Unas, mudando a coloração do Rio Jaboatão de beje para preta! É um verdadeiro absurdo cometido pelas indústrias e, pergunto: Onde estão as autoridades?


Subindo mais um pouco o rio, encontramos a explicação do porquê das cheias do Jaboatão serem tão constantes e violentas: a ocupação irregular das margens, ou diria do próprio leito do rio, pelas ruas e casas que estrangulam a passagem da água. É óbvio que nos períodos mais chuvosos a água irá extravasar o leito reprimido e assoreado do Rio Jaboatão, assolando casas e ruas vizinhas sem a menor piedade. É o troco da natureza contra quem a agrediu. E mais uma vez, onde estão as autoridades competentes para resolver o problema, sem prejudicar as pessoas e o meio ambiente? É natural que as ruas Diomedes Valois e Vidal de Negreiros (Azul) sejam assoladas cada vez que chove: elas foram construídas praticamente dentro do rio!





Além da ocupação irregular das margens e do leito do Rio Jaboatão, encontramos bem no Centro da cidade outras atividades impactantes. O lixo da Feira da cidade, que é jogado pelos comerciantes na Ponte da Colônia, e também no rio, e o despejo de esgotos domésticos. Será que realmente temos saneamento básico? Encontramos até o despejo de restos materiais de construção no rio! Mais uma vez: Cadê as autoridades?





Na comunidade da Moenda de Bronze, ainda é possível ver as ruínas da grande cheia de 2005 que arrassou a localidade, destruindo muitas casas e deixando muitas pessoas até hoje refugiadas. O local é uma pequena planície fluvial e de baixo nível, sendo facilmente inundado e está ocupado por famílias carentes. Ali, percebe-se melhor o assoreamento do Rio Jaboatão que está tão raso que até os pequenos leitões atravessam a pé! É um dos locais mais tristes para se observar!




A partir da Ponte do Arraial (ponte da Vila Rica), já podemos ver pessoas pescando no rio, embora a qualidade da água e dos peixes não seja boa. Saindo da zona urbana e chegando à zona rural, próximo a Usina Bulhões, percebemos uma leve melhoria no estado do Rio Jaboatão, com o retorno da vegetação ciliar em alguns pontos e o aumento da profundidade do rio. Mesmo assim, é preciso não se iludir com as condições, pois a Usina Bulhões ainda despeja resíduos no Rio Jaboatão e este já vem poluído desde Moreno, onde recebe dejetos urbanos e industriais. Além disso, em todo o trecho compreendido entre Moreno e Jaboatão, o rio é atingido por restos de produtos químicos oriundos da ferti-irrigação da cana-de-açúcar, atividade ainda dominante na área. Existem verdadeiros açudes com as caldas da usina, às margens do Rio Jaboatão.




Chegando ao local conhecido como Batoré, onde existe uma pequena represa, podemos observar mulheres lavando roupa no rio, pessoas pescando e crianças tomando banho. Parece um lugar aprazível, mas é uma pena que a qualidade da água não é boa e não é recomendável nela entrar. Mas, ali percebemos que se o Rio jaboatão fosse melhor cuidado seria um belo e rico ambiente de lazer para locais e visitantes, onde se poderia pescar, nadar e lavar roupa sem medo, como acontecia há séculos atrás. E mais uma vez perguntamos: onde estão as autoridades para punir os agressores e trazer de novo a vida ao querido rio que deu nome à cidade e que ainda faz parte de nossas vidas? Até quando o Jaboatão continuará sofrendo assim?




quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Um passeio pelo Rio Duas Unas

Por James Davidson



O Rio Duas Unas é o principal afluente do Rio Jaboatão e tem sua confluência com este exatamente na Antiga sede da cidade. Tem grande importância para a história e a geografia do município, pois foi na sua confluência com o Rio Jaboatão que nasceu a cidade de Jaboatão. A abundância de água na localidade favoreceu o desenvolvimento do povoado. Além disso, o Rio Duas Unas é uma das principais fontes de abastecimento da Região Metropolitana do Recife, pois possui uma das mais importantes represas de abastecimento, que é a Represa de Duas Unas.




O rio Duas Unas nasce no Engenho Serraria, nas proximidades de Bonança, em Moreno. Aí, serve de limite entre Moreno e São Lourenço da Mata até entrar em Jaboatão. O Rio passa pela Usina NS Auxiliadora e pelos engenhos Fortaleza, Sapucaia, Una e Pocinho, em Moreno, até despejar na Represa de Duas Unas. Um detalhe muito importante: o Rio Duas Unas pertence a Bacia do Jaboatão e não do Rio Capibaribe, como citam algumas referências. O engodo ocorre porque existe um outro rio de nome Várzea do Una que despeja no Tapacurá, afluente do Capibaribe. Decidimos começar nosso passeio pela foz no Rio Jaboatão e não na nascente, que faremos outro dia. Nosso percurso foi até a represa de Duas Unas.


No encontro com o Rio Jaboatão, percebemos o estado degradado em que se encontra o rio. As águas negras contrastam com as águas barrentas do Rio jaboatão. Mais a montante entenderemos o porquê. Percebe-se o alto grau de poluição e degradação ambiental sofrido pelo Rio! O Rio Jaboatão começa a ter águas escuras ao encontrar-se com o Rio Duas Unas.


Subindo mais um pouco, ainda no Centro da cidade, encontramos um verdadeiro crime contra a natureza e contra a população ribeirinha! Catadores de metal estão escavando indiscriminadamente as margens do rio, ao lado das oficinas da rede ferroviária, retirando a mata ciliar que protege o rio e assoreando a margem direita, desviando o talvegue do mesmo e causando o desmoronamento da Rua Samuel Campelo. É bem no Centro da cidade, mas onde estão as autoridades para punir os infratores. A CPRH compareceu ao local, mas nada foi feito, pois a atividade ilegal continua. As áreas à margem dos rios são protegidas por lei federal, mas os agressores estão impunes! O que será da população quando vierem as enchentes, já que o rio está sendo assoreado?




Durante todo o percurso urbano do rio, passando pelos bairros do Centro, Santo Aleixo e Vista Alegre(Malvinas), encontramos vários impactos ambientais que prejudicam o meio ambiente aquático. Entre estes podemos citar o despejo de resíduos urbanos como lixo e esgoto, a ocupação irregular das margens, a retirada da mata ciliar, etc. Mas, as atividades que são as principais responsáveis pela degradação do Rio Duas Unas é a industrial, verificada no Bairro de Duas Unas pela ação do Conjunto Industrial Multifabril de Jaboatão, responsável pelo despejo de produtos industrias nas águas. É a partir do trecho próximo desse conjunto industrial que o Rio Duas Unas começa a ficar com as águas escuras, pretas!





Subindo mais adiante o rio, a qualidade da água já começa a melhorar, embora sabemos que não por completo, por causa da presença dos canaviais que, com a retirada da mata ciliar e com as chuvas, acabam permitindo que os produtos da ferti-irrigação das canas escoem para o rio. Apesar disso, é chocante comparar o aspecto do rio nesse trecho com o anterior, pois percebe-se uma mudança radical no estado do rio e para melhor!




Até a Represa de Duas Unas predominam os canaviais e, por aqui, terminamos nosso passeio com a conclusão de que o Rio Duas Unas, em um trecho de poucos quilômetros, sofre impactos que modificam por completo sua fisionomia. Os esgotos urbanos e industriais, a ocupação irregular das margens, a retirada da mata ciliar, a ferti-irrigação e a exploração ilegal das mesmas são os impactos ambientais encontrados em um rio que faz parte da nossa história e da nossa cultura.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Casa onde residiu o mestre Paulo Freyre

Por James Davidson
Fotos: Jorge Araújo


O grande mestre e pedagogo pernambucano Paulo Freyre, conhecido mundialmente pela grande contribuição que forneceu em suas obras à teoria da educação, escrevendo livros clássicos como Pedagogia do oprimido e Pedagogia da autonomia, nasceu no Recife, na Estrada do Encanamento, bairro de Casa Amarela. O que poucos sabem é que Paulo Freyre passou parte de sua infância e adolescência residindo em Jaboatão.



Ainda hoje, no Morro da Saúde, no Bairro de Santo Aleixo, em Jaboatão Centro, próximo ao estádio Jefferson de Freitas a ao ex-Colégio Piaget, existe sua antiga residência que sofreu poucas alterações desde a década de 30. Apesar do razoável estado de conservação, está precisando ser melhor preservada e um tombamento a nível municipal não seria exagero. Porém, grande parte dos jaboatonenses, mesmo os vizinhos, se quer sabem que aquela casa serviu para abrigar o grande mestre em sua passagem por Jaboatão.



Em Jaboatão, durante a década de 30, Paulo Freyre passou momentos difícies e sofridos, chegando inclusive a passar fome. Tomava banhos no Rio Duas Unas e pegava frutas dos quintais vizinhos para se alimentar. Estudava no Recife e tomava o trem todos os dias para chegar lá. Provavelmente, essas experiências vividas aqui contribuíram muito para a formação pessoal e profissional do grande mestre. Por isso, sua residência deve ser preservada e conhecida por todos, principalmente por aqueles que residem em Jaboatão. Até mesmo ele, antes de sua morte, visitava com certa frequência sua antiga residência dos tempos de outrora!