quarta-feira, 23 de julho de 2014

Como eram as casas no Bairro das Malvinas

Por James Davidson


O bairro das Malvinas em Vista Alegre - Jaboatão Centro - possui este nome em homenagem à Guerra das Malvinas, um conflito armado entre a Argentina e o Reino Unido pelo controle das Ilhas Malvinas, ocorrido em 1982. Por esta época, teve início a construção do bairro pelo Projeto Cura em parceria entre a COHAB e a Prefeitura do Jaboatão, governada então pelo prefeito Geraldo Melo. Ocupando um terreno às margens do Rio Duas Unas, o loteamento foi criado para atender à população de baixa renda e as ruas receberam nomes de municípios do interior do Estado de Pernambuco. Diferente, porém, ao que ocorre hoje, as pessoas não recebiam casas completas, mas apenas "águas-furtadas", ou seja, metade de uma casa. O morador deveria construir o resto posteriormente, no terreno disponível para uma futura ampliação. Por conta disso, o lugar também era chamado de "As Casinhas" por conta do tamanho das residências. Ao longo dos anos as pessoas foram ampliando e reformando suas residências e hoje sobraram apenas duas ou três casas que conservam o modelo original. Daí que registramos ainda em tempo oportuno já que a tendência deste tipo de modelo é desaparecer!

domingo, 29 de junho de 2014

Minha Posse na Academia de Letras do Jaboatão dos Guararapes

Por James Davidson


No último dia 06 de junho foi realizada, na Câmara de Vereadores do Jaboatão dos Guararapes, a cerimônia de posse da Academia de Letras do Jaboatão dos Guararapes - ALJG. Na ocasião, tomaram posse os acadêmicos fundadores da mais nova instituição que busca o engrandecimento da terra de Benedito Cunha Melo e de tantos outros que colaboraram para que Jaboatão fosse a tão grande cidade que é atualmente. Como mais um reconhecimento pelo trabalho que tenho desenvolvido em prol desta cidade, tanto através deste espaço como pelo livro Memórias Destruídas, tomei posse como acadêmico e aqui venho divulgar com os leitores do blog as fotos do evento.















domingo, 25 de maio de 2014

Capelas de Engenho Jaboatonenses

Por James Davidson

Capela do Engenho Bulhões

Casa-grande, senzala, capela e moita são os edifícios básicos de um típico engenho de cana-de-açúcar. Cada edificação cumpria uma função específica na organização do engenho, e alguns engenhos ainda conservam pelo menos um dos edifícios principais. A casa-grande cumpria o papel de residência do senhor de engenho e, geralmente, situava-se à meia encosta, em um ponto elevado onde se avistava a fábrica e a produção. Em contrapartida, a moita ou fábrica geralmente se localizava na porção mais baixa do terreno, próximo ao rio, por conta da força motriz ser movida a água. A localização da senzala no sítio variava bastante, podendo ser junto à casa-grande ou junto da fábrica, ou mesmo em outro canto do sítio, desde que não distante do mesmo. Já a capela localizava-se geralmente no topo de alguma colina próxima, nos engenhos mais antigos, ou também ao lado da casa-grande (geralmente nos engenhos do século XVIII).

Capela do Engenho Manassu

A capela de engenho era mais que um simples templo religioso. Era o centro da vida social do engenho. Além de cumprir as funções religiosas básicas - missas e batizados, era a capela o local de realização das principais festas da vida cultural do engenho. Dentre estas, destaque para as festas de casamento, sempre muito movimentadas, batismos de crianças, festas natalinas, de Páscoa, São João, etc. Mas as festas mais importantes de um engenho era a Festa do Padroeiro, a Festa da Botada e a "Pêja".

Capela do Engenho Palmeiras

As festas de padroeiro de engenho eram das mais concorridas e importantes. Algumas seguem ocorrendo até hoje, como a de São Severino dos Ramos, em Paudalho. Outras já tiveram seus dias áureos, mas estão hoje esquecidas, como a de São Braz, e a de Santo Antônio, do Engenho Velho do Cabo. Em Jaboatão, cada engenho também tinha sua festa de padroeiro tradicional no passado, mas com a desestruturação das comunidades da maioria dos engenhos e com a destruição de muitas capelas, a maioria dessas festas não existe mais.

Capela de São João Batista da Usina Bulhões

Os santos padroeiros, com suas respectivas festividades e capelas existentes nos engenhos de Jaboatão, eram os seguintes: Engenho Guararapes - São Simão; Engenho São Bartolomeu - São Bartolomeu; Megaype de Baixo - São Felipe e São Tiago; Megaype de Cima - N.S do Carmo; Novo da Muribeca - São José; Muribequinha - Santo Antônio; Penanduba - N.S do Rosário; Salgadinho - São Cristóvão; Secupema - Santo Antônio; Santo André - Santo André; Santana - N.S. de Santana; Engenho Socorro - N.S. do Socorro; Engenho Velho - N.S. da Guia; Suassuna - N.S da Assunção; Engenho Bulhões - São João Batista; Palmeiras - Santa Cruz; Macujé - N.S do Carmo; Camaçari - N.S. do Rosário. Dessas, capelas, subsistem apenas as capelas dos engenhos Palmeiras, Bulhões, Santana,  Manassu, e Megaype de Cima (ruínas).

Capela em ruínas do Engenho Megaype de Cima

A Festa da Botada era outro momento importantíssimo na vida de um engenho. Marcava o início da moagem da cana e era realizada geralmente no mês de setembro. Consistia numa celebração onde se faziam todos presentes, com realização de missa por um padre-capelão. Nessa ocasião, os equipamentos do engenho eram benzidos com água benta, principalmente a moenda do engenho. Já a Festa da Peja marcava o fim do  período da moagem da cana, geralmente em março ou abril, encerrando as atividades do engenho. Era uma cerimônia mais modesta e menos importante que a Botada, sendo mais comemorada pelos trabalhadores e escravos do engenho.

Capela do Engenho Santana

Toda essa festas e comemorações de engenho eram realizadas em suas capelas e fábricas e deixaram sua contribuição na cultura do brasileiro. Jaboatão, como terra açucareira desde a sua origem, também fez parte desse processo. Todavia a maioria dos engenhos estão desaparecendo por conta da falta de políticas eficazes de preservação!

Capela do Engenho Santana

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Casas-grandes de Engenho Jaboatonenses

Por James Davidson

Casa-grande do Engenho Penanduba

Casa-grande é um termo que foi eternizado no Livro Casa-grande e Senzala, de Gilberto Freyre, e refere-se às antigas moradias dos senhores de engenho. Junto com a capela, a fábrica e a senzala, formava o conjunto de edificações básicas de um engenho de açúcar. Porém, apesar do termo, nem sempre eram grandes casas, mesmo que existam algumas que são monumentais, como bem explica o Professor Geraldo Gomes.

Casa-grande do Engenho São Bartolomeu - destruída

Casa-grande do Engenho São Bartolomeu

A localização da casa-grande no terreno dos sítios onde se encontram as sedes dos engenhos, geralmente é situada à meia encosta, em ponto estratégico onde o senhor podia observar a produção do açúcar. Nos engenhos jaboatonenses, as casa-grandes em geral não fogem à essa regra, ficando situadas quase todas nesta mesma situação. As casas dos engenhos Rico, Muribequinha e Velho (atualmente destruídas), por exemplo, ficavam na encosta onde se observava toda o pátio e os edifícios da produção do açúcar.

Casa-grande do Engenho Santana

Casa-grande do Engenho Macujé

Dentre os edifício tradicionais de um engenho de açúcar, a casa-grande geralmente é o que com mais facilidade é preservado. Diferente das senzalas, que por sua fragilidade construtiva dificilmente são mantidas, as casas-grandes muitas vezes são o único edifício original de muitos engenhos de Pernambuco que se preservam. No caso de Jaboatão, muitos engenhos ainda mantém suas casas-grandes - Caiongo, Megaype de Cima, Penanduba, Novo da Muribeca, Usina Muribeca, São Joaquim, Santana, Suassuna, Socorro, Mussaíba, Duas Unas, Bulhões, Caxito, Corveta, Macujé, Pedra Lavrada, Camarço e Cananduba.

Casa-grande do Engenho Suassuna

Casa-grande do engenho Caxito

A mais célebre casa-grande de engenhos jaboatonenses com certeza foi a do Engenho Megaype de Baixo. Construída no século XVI ou XVII, era a mais antiga casa de engenho de Pernambuco a chegar até o século XX. Porém, apesar de sua magnificência e sua importância, foi cruelmente dinamitada, em 1928, por seu proprietário. Outras casas de engenho destruídas em Jaboatão foram as dos engenhos Guararapes, onde existiu uma biblioteca visitada por D.Pedro II, Velho - sede do 1° Bal Masqué de Jaboatão, São Bartolomeu (destruída em 2010), Muribequinha, Capelinha, Salgadinho, Rico, São Salvador, Palmeiras, Camaçari, Entre Rios, Cavalheiro e Cumbe.

Casa-grande do Engenho Megaype de Cima

Casa-grande do Engenho Guarany

A mais antiga atualmente existente é a casa-grande do Engenho Suassuna, construída em 1790 e onde funcionou a Academia Suassuna. Foi recentemente tombada pelo Estado, mas se encontra abandonada e sem uso. Outra casa igualmente importante é a do Engenho Novo da Muribeca, onde residiu o dicionarista Antônio de Moraes e Silva, autor do 1° Dicionário de Língua Portuguesa do Brasil. Também se destacam as casas dos engenhos Megaype de Cima, Penanduba, Dua Unas, Santana, Macujé e Caxito por sua beleza e arquitetura. Outras casas-grandes são bem modestas como as dos engenhos Pedra Lavrada, Caiongo e Canaduba.
Casa-grande do Engenho Caiongo

As casas-grandes de engenho são mais outro conjunto que integram o rico Patrimônio Histórico do Jaboatão. Sua preservação é necessária para garantir a manutenção da Memória Histórica do município, onde os antigos engenhos tiveram um papel fundamental.
Casa-grande do Engenho Novo da Muribeca

segunda-feira, 24 de março de 2014

Lançamento do Livro Memórias Destruída na Bienal do Livro de 2013

Por James Davidson

Abaixo vídeo sobre o Lançamento do Livro Memórias Destruídas, de minha autoria, na Bienal do Livro de 2013. veja como foi:


Agradece a todos que me honraram com a sua presença!

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Fontes Históricas, Pereira da Costa e Eu

Por James Davidson


Uma das grandes críticas feitas ao historiador Pereira da Costa, crítica tão repetidamente citada e comentada que já pode ser considerada como do "senso comum" dos historiadores, é justamente a que o referido autor não cita suas fontes. Daí, muitos utilizarem esse argumento para questionar a validade das informações fornecidas pelo autor em seus "Anais Pernambucanos" como se, por um grande ato de má fé, o autor inventasse tudo o que está escrito em seus 10 volumes. Não pretendo dizer que a obra está isenta de falhas e de erros, mas como bem esclarece o historiador José Antônio Gonsalves de Melo, muitas dessas falhas são fruto mais das limitações enfrentadas na época que Pereira da Costa viveu, em termos de acessos a algumas fontes, como mesmo de interpretação das mesmas. Simplesmente não acredito que ele fosse dar o trabalho de inventar tantos nomes, fatos e datas a tal ponto de preencher aqueles dez volumes.

Além disso, a própria afirmação que Pereira da Costa "não cita fontes" não é verdadeira. Autores como Manuel Honorato, Rocha Pitta, Santa Maria, Vital de Oliveira, entre outros, são citados frequentemente em sua obra. A ausência da citação das fontes de muitas informações citadas pelo autor se deve apenas a não existência do rigor acadêmico atual em citar e referenciar todos os dados, na época que o autor escreveu, como se faz atualmente. Assim, chega a ser um grande anacronismo, cobrar de Pereira da Costa a aplicação de métodos e mesmo princípios somente recentemente generalizados pela Academia como se ele tivesse vivido hoje. Sem contar que sua obra nunca pretendeu ser um "trabalho acadêmico", nem moldes atuais, nem nos moldes de sua época.

Essa mania de cobrar do passado com base nos conceitos e modelos atuais é um erro tão comum atualmente, tão generalizado, que são poucos os que ousam questionar. É uma espécie de "Etnocentrismo Cultural" dentro do tempo, onde julgo e condeno as pessoas e coisas do passado sob a ótica dos valores e princípios do tempo em que vivo. Assim, cobram de autores medievais verdades só descobertas na Idade Moderna; cobram de cientistas do século XIX informações só confirmadas no século XX; cobram da Bíblia uma classificação taxonômica só desenvolvida no século XVIII. Assim, cobramos dos que viveram no passado, que não podem se defender, sem considerar sua cultura e suas limitações.

Assim, não escondo minha admiração por Pereira da Costa. E mesmo que algumas de suas fontes tenham se perdido, é extremamente impressionante encontrar no acervo do Arquivo Público Estadual, do IAHGPE ou da Fundação Joaquim Nabuco um documento que, com muita probabilidade, Pereira da Costa conheceu. Não é difícil encontrar documentos que tenham sidos consultados por ele, mesmo não referenciados, mas que confirmam muitas das informações presentes em seus Anais. Assim, é bom ter o cuidado antes de repetir o preconceito: "Pereira da Costa não cita suas fontes", pois o fato dele não citar não quer dizer não elas não existiram.

E como Pereira da Costa, algumas pessoas fazem crítica ao meu blog pois não "cito minhas fontes". Querem que disponha na internet todas as minhas pesquisas e tentam diminuir a credibilidade do meu trabalho por se tratar de apenas um "blog". E o pior é que essas críticas partem principalmente do meio acadêmico, por pessoas que se dizem "cultas", às vezes com títulos de mestrado ou de doutorado. Às vezes feitos por pessoas que se quer pararam para ler e conhecer.

O que tenho pra dizer inicialmente é que o objetivo do meu blog nunca foi a Academia. Escrevo para a população em geral, tanto leigos como especialistas, pois tenho como princípio básico a disseminação do conhecimento de nossa cidade para seus habitantes. Meu trabalho tem como propósito ser um instrumento de divulgação, uma arma na defesa de nosso Patrimônio Histórico, do Meio Ambiente, de nossa identidade. Um instrumento na prática da Educação Patrimonial e Ambiental para o exercício da cidadania e para o fortalecimento de nossa identidade, de nossa cultura e do sentimento de pertença. 

Além disso, não pretendo satisfazer os caprichos nem se submeter aos preconceitos existentes no meio acadêmico. Infelizmente, a academia, com suas devidas e raras exceções, está repleta de gente que se diz culta, que se diz ética, que se diz socialmente correta e consciente. Mas quando observamos suas práticas diárias descobrimos ser exatamente o contrário, pois em nenhum outro lugar reinam tantos preconceitos, tanta ambição sem limites, tanta desonestidade e tanta gente sem ética disposta a tudo, sem escrúpulos nem princípios, para atingir o que querem. Um lugar onde há muito tempo se deixou de produzir um verdadeiro conhecimento, aos moldes de Paulo Freire, que é aquele com finalidade social, para se praticar uma verdadeira "masturbação intelectual" onde tudo tem como finalidade o status, seu próprio ego ou seu próprio bolso. Um lugar onde os discursos bonitos e "socialmente corretos" estão muito longe das práticas elitistas, classistas, preconceituosas, discriminatórias e excludentes presentes no cotidiano das universidades, principalmente das federais. Assim, não me surpreendo com as críticas que surgem, mais por ciúmes pela incapacidade de fazer algo melhor, que de fato pela legitimidade de seus argumentos.

Entretanto, nunca escondi todas as minhas fontes. Vasta lista bibliográfica encontra-se disponível no meu blog para aquele que se interessar em conhecer a História e Geografia do Jaboatão dos Guararapes. Como também nunca me neguei a ajudar àqueles que humildemente solicitam. Contudo, quanto a disponibilizar todas as minhas fontes e todas as minhas pesquisas, saibam que isso é fruto de 7 longos anos de pesquisas em diversos acervos de diversos tipos em diversos locais, e não posso conceder de graça aquilo que foi fruto de um longo trabalho. Ainda mais para a Academia que nunca respeitou nem valorizou o meu trabalho. Por isso, àquele que exige tal atitude de minha parte, sugiro que largue o conforto da tela do computador nos centros acadêmicos e passe a pesquisar os arquivos, jornais, documentos, iconografias, manuscritos e livros existentes nos vários acervos da cidade, como fiz por sete anos e continuo fazendo. Pois este é o trabalho de um verdadeiro historiador, e não repetir preconceitos e discursos ultrapassados, quase sempre sem fundamentos.

Manassu

 Por James Davidson Manassu. A palavra é de origem indígena e significa "grande tempestade". Pra mim o lugar tem um significado be...